Sábado, 12 de Fevereiro de 2005
Um dia destes vou escrever a minha autobiografia. Não estou à espera de ter muitos livros vendidos, pois infelizmente não entrei na Quinta dos Famosos ou no Big Brother e para se ter fama instantânea em Portugal não basta ter apenas um Blog. Mesmo assim talvez consiga chegar aos cem exemplares vendidos. Se estivesse envolvido no escândalo Casa Pia talvez chegasse aos mil...
Como não tenho a vantagem de ser conhecido pensei em fazer uma autobiografia de ficção. Posso adiantar que a história começa, como é óbvio, com o meu nascimento em 1970, passando depois para cenários e acontecimentos como a minha participação no 25 de Abril ou a campanha militar de 1984.
Segue-se agora um pequeno excerto da obra:
"Avançávamos lentamente, atentos a qualquer movimento nas pequenas ruas circundantes à avenida que patrulhávamos. Com o dedo no gatilho, estava pronto a reagir a qualquer situação. O calor era insuportável e as gotas de suor escorriam pela face, caindo desamparadas no chão de terra batida. No entanto, a concentração era elevada e nem por um momento perdiamos de vista a população civil que partilhava connosco aquelas ruas poeirentas e esburacadas. O ataque podia vir de qualquer lado e quando menos esperávamos. Lembrei-me dos tempos de paz ao ver uma criança que brincava com o seu cão. Ia dizer qualquer coisa ao meu companheiro da frente quando fomos surpreendidos nesse preciso momento por alguém que estava escondido atrás de um velho carro. O ovo acertou em cheio na cabeça do João, que seguia um pouco atrás de mim. Atirei-me ao chão e disparei a minha bisnaga de água suja na sua direcção e atingi-o no olho esquerdo. Mas era tarde demais. O pessoal da rua de baixo era em número superior e tivemos de fugir. Foi assim o carnaval de 84.